Parar para ver

 

Em física, cinemática é o estudo dos movimentos sem a preocupação com o que os determina. Quando se diz que um objeto está em movimento, isto significa que sua posição está mudando com o passar do tempo. Penso então em estabelecer uma relação entre movimento e imobilidade determinada pelo tempo, ou seja, o movimento de um objeto se torna perceptível se num momento ele está aqui e daqui a pouco passa a estar ali. Se o objeto não se movimenta, não se desloca daqui para ali, metaforicamente falando, é como se não houvesse nenhuma passagem de tempo. Nesse caso, a imobilidade implica na parada do tempo.

 

Mas os objetos do mundo que Marilene Nacaratti nos apresenta em suas séries contidas nesse livro, se movimentam, mesmo que seus deslocamentos sejam ínfimos. O que não se movimenta é o ponto de vista da fotógrafa. Achado seu ponto de vista, Marilene se fixa nele. Parada, passa a ver. Ver o que o mundo reserva exclusivamente para ela, seja num desfile militar ou no playground da sobrinha, no homem parado na calçada ou na senhora sentada na cadeira. Cada uma dessas séries são então apresentadas como se fossem pequenos filmes, que na sequência publicada revelam seu caráter cinematográfico.

 

Cinemática nos convida a assistir ao homem que bóia no mar, a dar um passeio pelo campo de futebol, a seguir a linha formada pelo encanamento atrás das árvores. Marilene Nacaratti nos faz parar para ver e observar cenas cotidianas que nossos relógios contemporâneos nos desacostumaram a perceber.

Claudia Tavares, artista visual, outubro de 2014